segunda-feira, novembro 24, 2014

Qualintéfaro e o messias das coisas pequenas

Após uma particularmente robusta refeição de raízes de mandioca, adormeceu Qualintéfaro sob a sombra de um plácido bordo. Em sonhos foi visitado por um pequeno homem, não maior que a sua mão, vestindo uma toga e carregando um bordão do tamanho de uma colher de chá.
Devante o rosto de Qualintéfaro, deitado na relva, o ancião apartou a barba e anunciou solenemente:
"Eu sou o messias das coisas pequenas, Qualintéfaro. Não venho anunciar o Fim do Mundo; nem a Iminência do Novo Éon; nem Resgatar o País da Crise Financeira."
Pouco impressionado, retorquiu-lhe Qualintéfaro enquanto esfregava um olho sonolento:
"Nesse caso, o que messias tu, ó messias, e porque importunas o meu sono com coisas de somenos?"
"Ah!", respondeu o pequeno homem, o seu rosto subitamente iluminado, "E quem te diz que, por serem menores, as minhas revelações são de irrelevante importância? Trago comigo, para quem ousar seguir-me, coisas como A Sabedoria Para Reconhecer o Que Se Entende Como Certo; A Vitalidade Para Agir Em Conformidade; e a Paciência Para Aturar As Merdas Dos Outros. Ousas reclamar que são bênçãos menores?
Antes que pudesse responder, Qualintéfaro foi subitamente arrancado ao sonho. Assim sendo, ficou remoendo a revelação, deitado sob a sombra de um bordo, enquanto corria uma fresca brisa.

A moral da história?
Não te abrigues debaixo de uma árvore durante uma tempestade.

Anónimo

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