quarta-feira, abril 17, 2013

Qualintéfaro e o Lagarto Literal

Num dos seus incontáveis périplos pelo globo, aconteceu Qualintéfaro cruzar-se com uma peculiar criatura, que se espraiava languidamente sobre um penedo. Da seguinte forma se lhe dirigiu o viandante:
— Bom dia, nobre lagarto. Que fazes tu neste local tão inusitado? Não via viv'alma há que dias!
Entreabrindo um olho preguiçoso, o lagarto lhe respondeu:
— O que faço eu aqui? Penso que está isso à vista de qualquer um: Espraio-me indolentemente ao Sol. Quanto à qualidade do dia, não sei o que possa dizer – não o conheço o bastante para dele ter opinião formada.
— Hum, enfim, não era bem isso que eu queria dizer. — Retorquiu o perplexo Qualintéfaro — O que quero saber é o que te trouxe a estas paragens...
— Ora, mais uma vez perguntas o óbvio: o que me trouxe foram estas quatro fiéis patas, sobre as quais me venho deslocando há já alguns anos.
Sentindo já a sua justa cólera apoderar-se de si, Qualintéfaro deu um pontapé na terra, cuspiu no chão e, rodando sobre os seus calcanhares, começou a afastar-se do penedo enquanto bradava:
— Verme miserável! Se o que pretendes é rir-te às minhas custas estás com azar. Bem podes apodrecer nesse calhau!
O lagarto acompanhou por instantes com o olhar o homem que se afastava. Depois, voltou a fechar os olhos e enquanto ajustava ligeiramente a sua posição sobre a pedra, comentou, sibilino:
— Curioso indivíduo. Pensava que o riso era bem que se pudesse comprar com moeda... E teimava em observar o evidente: cada segundo que passa nos aproxima todos da putrefacção.

A moral da história?
A cavalo dado não se olha o dente, ou coisa assim.

Anónimo

0 comentários: