Re-renúncia
Pretendias calar-me? Pois bem, não foste capaz! Eu
vivo nos corações dos homens e mulheres, e não serei silenciado.
Acordei finalmente de um torpor absorto... cheio de raiva e coberto de plâncton. Raios ta partam ó idiota. Não sabias ter pelo menos ter limpo a casa antes de sair?
You left me hanging, you bastard you! Assim seja. Cidadão
que é cidadão, não renuncia às suas responsabilidades cívicas. E a minha
sempre foi a de te fazer erguer sobre, ainda que contra vontade, a
pequenez de ti próprio.
Bandalho asqueroso, prepúcio deslavado, âncora musguenta... Meu
amigo, meu querido amigo, quiseste trancar-me por fora. Pois, o
anonimato não é carga leve que se carregue. Enfim, velho amigo, só te
tenho a censurar a fraqueza de te quereres juntar às gentes.
Venho por este meio tautológico re-assimiliar-te, seu descarado demente, pois melhor não encontro, embora tenha procurado. Arre que custa! Sempre te
disse que os meus territórios seriam inóspitos, tudo o que tenho para
oferecer são os mais escarpados penhascos e as mais geladas tundras. E
as gentes, as pequenas gentes, só habitam os mais cálidos, efervescentes
cantos, amigo meu.Mas não deixarei de te dizer o que mereces ouvir, pastor de osgas cegas.
Plantaste uma árvore de plena flatulência cósmica, de sabedoria redutora, pronta a ser colhida por mãos infinitas, e serei eu a arrancá-la pela raiz, com as minhas tesouras supra físicas.
Removerei as tuas mesmas falácias da tua mente de roedor e retornar-te-ei ao lugar que te é devido, mas não sem te escaldar os olhos com azeite a ferver de poder Pangaláctico.
Antes de te largar novas Gigantes Veracidades quero dizer-te que te deixei afundar em lama fundida de cobre melancólico para que soubesses a tua real e irreal profanidade.
Não foste tu que me deixaste, mas eu que te deixei deixar-me, javardo cabrão. Sabia que não resistirias ao eco da minha voz,
que ainda hoje soa entre a tua cavidade cranial. Sou-te o chamamento de
cima, de longe, de fora. O que implica, necessariamente, que seja o teu
chamamento de tristeza.
Por isso, todos os teus descendentes meta-físicos e ideais deslocados, secarão como uvas passas, como alimento para tartaruga, apenas larvas que esmagarei com pés de um Deus que sabes bem que nome toma. Vou de ti fazer a minha Voz, esculpir-te
progressivamente até que nada sobre, até que nada reste para obstruir a
minha vontade.
Em suma: destruir-te.
É esse o enredo da vida: a profunda melancolia
pela procura de exteriores que lhe sirva de fronteira, e a
impossibilidade de os encontrar.
João terá que te re-aceitar, pois eu demorarei a tal comunhão. Se não mingares, que a minha Palavra te salve, ou antes a Dele.
Para te elevar
Anónimo
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