sexta-feira, novembro 05, 2010

FMI oblige

A um profeta como eu, de hábitos estranhos e pouco populares, habitante mais dos topos de montanhas do que dos baixos pântanos, não deveriam interessar temas tão mesquinhos como a saúde dos cofres das nações, e de alegadas crises em que estas se vêm atoladas. E não me interessam. Mas ocasionalmente viro as minhas atenções a esses assuntos que, apesar de pedestres, têm um impacto profundo (por norma negativo) nas aspirações mais elevadas do espírito humano. E não pensem que se trata de um infeliz acaso, obstáculos que circunstâncias adversas criaram e que os nossos benfeitores de fato à medida se esforçam por derrubar.
A crise é uma condição, senão a condição essencial, para a manutenção da ordem. A ordem disciplinar que pretende estrangular os fluxos criativos, todo e qualquer. A ordem que oferece segurança e conforto a troco de pagamentos em prestações vitalícias. A ordem que sufocaria a estrela dançante que todos carregamos no peito, mas que tão pouco deixam brilhar.
E porque, apesar de anónimo, sou também e acima de tudo um cidadão, resta-me suspirar. E guardar em mim aquele silente grito de revolta que ninguém cala, e que o trovador tão bem cantou, ia o ano de 1982.

Anónimo

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