terça-feira, novembro 10, 2009

Qualintéfaro e o Crocodilo

Vogava Qualintéfaro o deserto há cem dias quando se cruzou com um oásis. Aproximando-se, distinguiu o brilho de um pequeno lago, coisa que muito o animou, pois nem só de areia e de sol vive um homem. Mas, quando dele mais se aproximou, viu que nesse lago vivia um temível crocodilo, que nele havia feito o seu território de caça, cruzando-o pacientemente aguardando o momento em que um animal mais incauto viesse saciar a sede nas águas cristalinas. Avisado, Qualintéfaro bebeu do lago sempre com o crocodilo debaixo de olho, enquanto lhe lançava a seguinte invectiva:
"Descansa besta horrível, que em Qualintéfaro não hás-de encontrar repasto! Vou beber desta água e pernoitar neste teu território, e tu bem que podes morrer à fome."
E assim fez, subindo a uma tamareira que acolá se erguia, e nela construiu um abrigo suficientemente sólido para nele passar a noite fria do deserto. Acontece que, durante as altas horas da noite, alguns frutos maduros que sobre ele se encontravam deixaram cair sobre a face de Qualintéfaro boa porção do seu sumo. E assim, ao acordar, Qualintéfaro viu com grande espanto que a sua cara, reflectida na superfície do lago que lhe servia de espelho matinal, apresentava uma cor azulada.
Vendo a aflição do viajante, o crocodilo, que é uma besta lenta mas terrivelmente astuta, logo o desafiou:
"Pobre desgraçado, foste certamente mordido por um escorpião do deserto! Agora, apenas banhando-te nas águas deste lago poderás salvar a tua vida!"
Tomado de temor pela sua vida, Qualintéfaro deixou os seus cuidados de lado e logo mergulhou o seu corpo nas águas que serviam de casa ao crocodilo. Logo o crocodilo, sarcoteando a sua cauda como um chicote mortífero, se lançou sobre Qualintéfaro e o devorou numa dentada.

Moral da história? As pessoas podem ser muito filhas-das-putas, mas piores são os crocodilos.

Anónimo

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